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O papel do microbioma na desordem do espectro autista: o que a ciência nos diz?

A desordem do espectro autista (ASD) é um complexo transtorno neurodesenvolvimental marcado por déficits na comunicação social, comportamentos repetitivos e interesses restritos. Embora a etiologia exata da ASD ainda não seja completamente compreendida, pesquisas recentes apontam que o microbioma e a dieta podem ter um papel fundamental no seu desenvolvimento.

Microbioma: um universo a ser explorado

O microbioma é um vasto conjunto de microorganismos – incluindo bactérias, fungos e vírus – que interagem com o corpo humano de diversas maneiras. Esses microorganismos podem influenciar funções corporais através da produção de metabólitos que exercem efeitos significativos em todo o corpo, inclusive no cérebro, afetando o comportamento.

Caminhos de comunicação cerebrais

A pesquisa identificou vários caminhos de comunicação através dos quais o microbioma pode influenciar o desenvolvimento do cérebro e do comportamento. Entre eles estão:

  1. Via neuroimune: descreve a comunicação entre o microbioma e a resposta imune do hospedeiro, onde uma ativação excessiva pode levar a uma inflamação crônica que afeta negativamente o desenvolvimento e a função cerebral.
  2. Sistema nervoso autônomo (ANS): regula funções corporais inconscientes e pode, indiretamente, afetar o comportamento e a cognição através da disbiose do microbioma.
  3. Eixo hipotálamo-pituitária-adrenal (HPA): regula a resposta ao estresse do corpo e, quando cronicamente ativado, pode ter efeitos prejudiciais no desenvolvimento cerebral e na função cognitiva.
  4. Produção de neurotransmissores: o microbioma pode afetar a produção de neurotransmissores críticos como GABA e serotonina, que têm um papel vital no controle do comportamento e da cognição.

Disbiose microbioma e ASD

Estudos indicam que a disbiose microbioma pode influenciar a patogênese da ASD. Ela ocorre quando há um desequilíbrio nas populações bacterianas intestinais, levando a prejuízos na função normal do intestino e na absorção de nutrientes. Esta condição pode contribuir para características da ASD, como comportamento rígido e disfunção na comunicação e socialização.

Abordagens terapêuticas emergentes

Diante deste cenário, pesquisadores têm investigado o papel das intervenções dietéticas no microbioma intestinal e no comportamento de pacientes com ASD. Algumas abordagens que têm mostrado resultados promissores são:

  • Dieta sem glúten e sem caseína: embora o mecanismo exato ainda seja desconhecido, acredita-se que possa reduzir a inflamação sistêmica e melhorar a permeabilidade intestinal, contribuindo para a redução das alterações neurocomportamentais.
  • Suplementação com probióticos: representa uma abordagem terapêutica emergente que tem demonstrado melhorar o comportamento e a cognição em alguns pacientes com ASD.
  • Transplante de microbiota fecal (FMT): este procedimento, que envolve a transferência de microbiota intestinal saudável de um doador saudável para o intestino do paciente, tem se mostrado promissor na melhoria do comportamento e na redução de sintomas irritantes e obsessivos.

Conclusão

O microbioma intestinal desempenha um papel crucial na pathogenesis da ASD, influenciando através de várias vias, incluindo as vias neuroimune, ANS, HPA e neurotransmissores. O tratamento da disbiose microbioma através de dietas específicas, suplementação com probióticos e FMT aparecem como abordagens terapêuticas promissoras.

No entanto, é fundamental que mais pesquisas sejam realizadas para desenvolver abordagens terapêuticas mais eficazes e seguras para pacientes com ASD, abrindo novos horizontes para um futuro mais inclusivo e saudável para todos.

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Dra. Jerlene Barbosa - Neurologista
Dr. Geraldo Barbosa - Neuropediatra